História do Hip Hop Tuga #3
- Sofia Antunes
- 16 de jun. de 2017
- 3 min de leitura
Hoje, A Caixa traz-te mais um artista que marcou o Hip Hop nacional: Boss AC.
Considerado um dos artistas mais antigos na história do Hip Hop nacional, o rapper português que nasceu em Cabo Verde, começou a dar os primeiros passos após gravar, nos EUA, o álbum ‘Manda Chuva’ um dos nomes pelo qual é muitas mais vezes conhecido.
No entanto, foi em 2002, com o álbum ‘Rimar contra a maré’ que o rapper ascendeu à fama em Portugal: hits como ‘Baza baza’ e ‘Lena’ que foram totalmente gravados, produzidos e misturados pelo próprio (à exceção de dois temas que foram misturados por Troy Hightower – um dos mais requisitados produtores de Hip Hop nos EUA).
Durante a sua carreira, Boss AC gravou com vários artistas , maior parte deles bastante conhecidos no meio musical e fora do registo do Hip Hop, como é o caso de Mariza e Rui Veloso. Estas colaborações criaram uma fusão brilhante entre dois estilos de música diferentes.
A Carta que nunca te escrevi
‘A carta eu eu nunca te escrevi’ é uma das músicas de Boss AC mais ouvidas no Youtube. Com mais de 5 milhões de visualizações, é sem dúvida uma música muito conhecida e acarinhada pelos ouvintes.
O facto de ter uma mensagem fria, mas real, tornou esta música num hino a perguntas sem resposta e a um turbilhão de ideias de um coração despedaçado ‘por mais crua e difícil que seja / venha a verdade’. O músico fala de gratidão, e sensatez nos sentimentos, acima de tudo comovido e triste por se sentir tão enganado:
"Porquê que não me olhas nos olhos quando pedes perdão?
Será por saberes que neles vejo o reflexo do teu coração?
E os olhos não mentem quando a boca o faz
O artista procura respostas às suas perguntas, embora saiba que no que toca ao amor, há coisas que nunca saberá e termina a música num gesto de despedida:
acho que nunca soubeste o quanto gostei de ti
esta é a carta que eu nunca te escrevi"
‘Alguém me ouviu’
‘Alguém me ouviu’ foi gravado em 2009 para o álbum de Bossa AC ‘Preto no Branco’. Esta música conta com a participação de uma das mais conhecidas fadistas da atualidade: Mariza.
A música serviu de ponte para a aceitação do Hip Hop como património nacional com conteúdo e interesse – desmitificando as ideias dos mais velhos de que o Hip Hop era algo degradante – após a publicação desta música, várias rádios nacionais passaram a por no ar músicas do Hip Hop nacional.
Os artistas criam uma fusão muito interessante entre o Hip e o Fado, dois estilos de música tão diferentes, e cuja junção não é comum.
Falando em específico na mensagem da música, Boss AC inicia a música descrevendo o modo como se sente:
‘Não me resta nada, sinto não ter forças para lutar / É como morrer de sede no meio do mar e afogar’ e continua a música mostrando que está farto de estar num ‘abismo imenso’.
Mariza surge na música como fator motivacional, como uma força interior que permite a Boss AC continuar o seu caminho, nunca desistindo dos seus objetivos:
"Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir eu prometo"
O videoclip conta com a participação de ambos os artistas e durante todo o vídeo surgem algumas palavras que enunciam vários problemas: desde a desesperança, desamparo, incapacidade de reagir, culpabilização, etc – que constituem problemas mentais mais ou menos graves, que devem ser do conhecimento de todos.
É neste contexto que surge no vídeo o projeto UPA – UNIDOS PARA AJUDAR que tem como objetivo aumentar o conhecimento dos jovens sobre questões da saúde mental.
‘Tu és mais forte’
‘Tu és mais forte’ surge em 2012 como uma lufada de ar fresco no Hip Hop, num registo feliz e extremamente motivador – que contrasta um pouco com as músicas que mostramos anteriormente.
Boss AC apela os seus ouvintes a seguir os seus sonhos e a nunca desistir, porque só se vive uma vez, e porque tudo terá o ‘prémio merecido’.
"A estrada não é perfeita
Apenas uma vida, aproveita
Só perdes se não tentares
E não desistas se falhares"
A música mantém sempre o registo altamente motivador, como algo que definiria como hino à felicidade, uma das frases que realmente mais marca esta música é: ‘Quando acreditas a força nunca se esgota / Só a reconheces a vitória se souberes o que é a derrota’
Edição: Catarina Custódio
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