O formador de caráter

O pequeno Artur, era o terror da Rua 5 de Outubro em Valongo, no alto Alentejo. Nunca por maldade, mas o petiz destruía tudo aquilo em que tocava. Um autêntico furacão de calções azuis, camisola verde e com os cordões das botas sempre desapertados.

Nenhum dos outros meninos queria brincar com Artur, pois trazia sempre problemas às brincadeiras dos mais novos.

Augusto era um senhor que, apesar dos seus 75 anos, muito bem vividos, carregava consigo uma sabedoria invejável.

Verdade é que todos o respeitavam. E alguns até tinham uma alcunha bondosa para ele, chamavam-lhe“ o formador de caráter”, devido à quantidade de homens que criara através dos seus conselhos.

Certo dia lá ia Augusto no seu passeio matinal, quando esbarra contra o jovem Artur.

– Já ouvi falar muito de ti, pensava que tinhas dois metros por dois, de tanto caos que já causaste – declara num tom amigável, o velho sábio.

– Eu não faço por mal, apenas tenho muito azar, senhor... – responde Artur na sua voz doce e inocente.

– O azar não existe pequeno, tens de ser mais ponderado e cauteloso nas tuas ações.

– Pois, acho que sim… – acrescentou Artur um pouco envergonhado.

– Deixa-me dizer-te um pequeno segredo, eu com a tua idade, era igual e ninguém queria brincar comigo.

– Eles não compreendem e fogem de mim. Fez o quê com a minha idade? – perguntou o pequeno, cheio de curiosidade.

– Aproximei-me do conhecimento dos livros, dos mais velhos, e se hoje vivi a vida que vivi, aos anciões desta aldeia agradeço. Percorri o mundo, ganhei um bom dinheiro e constitui uma grande família. – respondeu Augusto.

– Eu gosto de saber coisas, ser inteligente e ter dinheirinho! – disse Artur com um tom entusiástico, como quem descobriu a pólvora.

– Então segue os meus conselhos, transmitidos pelos sábios do passado, e eu transformo-te num verdadeiro homem.

Edição: Catarina Custódio

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