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História do Hip Hop Tuga #1

  • Sofia Antunes
  • 8 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura

Nota introdutória: Durante esta semana, a rúbrica de música será dividida em cinco artigos sobre cinco artistas que foram muito importantes na história do Hip Hop Português – uma lembrança daqueles que lutaram e também daqueles que continuam a lutar pelo o movimento Hip Hop Tuga.

Seria estranho iniciar esta rubrica sem começar pelo mais conhecido rapper português. Abraçou o movimento em 1997, e desde aí tornou-se uma figura influente e muito acarinhada pelo público jovem português.

Valete sempre foi reconhecido pela sua lírica e eloquência: nunca quebra o ritmo, e utiliza conteúdos relevantes para passar uma mensagem – de facto, o músico sempre se preocupou em manter as raízes do Hip Hop, como fonte transformadora da sociedade, ao denunciar e fazer refletir sobre assuntos que afetam toda a Humanidade.

Uma das suas músicas mais conhecidas é ‘Hall Of Fame’, de 2008, onde este fala sobre os seus ídolos no Hip Hop nacional que marcaram a sua adolescência.

‘Boss AC foi o primeiro MC a reduzir todos os outros a pesos plumas

e em 95 levou o flow para outro nível

deu-lhe com a alma e devorou o Pacman no álbum dos Da Weasel

era um flow homicida, e ele tinha apenas 19

era preciso ser um Mad Nigga para competir com o Boss'

Valete fala de humildade e trabalho para atingir o topo, dando o conselho ‘sê tu próprio e corre por amor ao Hip Hop’.

Na música agradece a Sam the Kid e XEG, por trabalharem até suar por amor ao Hip Hop – e a vários outros por marcarem os anos 90 e por andarem ‘nas correrias do Hip Hop Tuga’.

A maior razão pela qual o músico ficou conhecido no movimento foi o facto de ter conteúdo interessante e muito relevante na atualidade. O chamado rapper com ‘knowledge’.

Em 2009, publica a sua música ‘Fim da Ditadura’ onde enumera vários problemas da sociedade, relembra muitas figuras históricas relevantes e mostra problemas gravíssimos no mundo em que vivemos.

A minha aversão ao imperialismo não sara

Não quero fama, nem glória, dá-me só uma T-shirt de Che Guevara

Põe-me num 7.4.7, México aqui vou

Viajo lembrando de como a segunda torre se desmoronou

Depois de 15 horas de voo, meu Boeing aterrou

A música remete diretamente para o terrorismo, e há alusões diretas a Bin Laden, e a um plano de conspiração para matar George W. Bush, uma clara memória aos males que foram consequência do seu governo:

‘isto é pelas vítimas das guerras que vocês fabricaram!!

Pelas bocas que morreram pela falta de pão que vocês negaram!!

Pelo terror que semearam, alastraram, perpetuaram!!

Pelos homens e mulheres que as vossas bombas mutilaram!!

Pelo suor dos trabalhadores que vocês escravizaram!!

Pela alma deste planeta que vocês danificaram!!’

Outra das músicas mais conhecidas de Valete é interpretada na primeira pessoa. A música ‘Roleta Russa’ encena cenas extremamente íntimas com a Vanessa, uma mulher desinibida e irresponsável.

‘Eu não falei, não tirei o olhar, aproximei-me...

Não perguntei, foquei nos lábios e beijei..

E saboreei-os bem, deixando-a sem reação.

Minha língua interlaçou na dela, pura conexão’’

De uma forma mais informal, mantendo sempre a lírica e flow que o distinguem, Valete alerta para a necessidade de responsabilidade nos atos sexuais – afirmando que a Vanessa não terá sorte com ele se não utilizar um preservativo.

No final da música, deixa uma mensagem a todos os jovens:

Esta história é semelhante á tua.. provavelmente com

um final diferente..

Né super homem ..

Tu que andas aí a navegar á toa.. desprevenido e

desprotegido..

Tu sabes das doenças que andam por aí.. também sabes

que

existem 40 milhões de ser-o-positivos em todo o

mundo..

Tu podes ser o próximo..

Super homem

Com 35 anos, Valete volta novamente ao rap português em força com a sua nova música ‘Rap Consciente’

É o regresso do músico Valete. Após 11 anos sem lançar um álbum, e muito ausente do movimento Hip Hop, facto que o próprio ecoa nos seus versos, o cantor faz uma alusão ao músico XEG, que ‘lhe salvou a vida’. O rapper publicou no seu Facebook que esteve ausente após problemas pessoais, e muita necessidade ‘de ler e aprender mais’, pois considerava que tinha muitos assuntos que precisava de entender para escrever sobre eles.

Este single vem lançar a discussão de novo no mundo do Hip Hop – Valete está de volta ‘ao rap sujo’, numa luta contra o rap que é feito hoje em Portugal, um estilo muito comercial, sem conteúdo relevante, como o próprio diz na sua música, ‘rap burro, não temos opinião sobre nada’

Na sua mais recente entrevista à revista Blitz, o músico explica ‘que estamos a perder o hip-hop como ferramenta transformadora. O hip-hop está a ser usado por um movimento de materialismo’ e lança grandes críticas aos artistas ‘azeiteiros’ e ‘pirosos’ – que estão a tirar a verdadeira essência do Hip Hop como estilo musical urbano, que denuncia os problemas existentes no mundo e na sociedade.

No vídeo aparecem vários artistas marcantes no Hip Hop nacional, dos quais fazem parte Sam The Kid, XEG, Maze, Capicua, Slow J, Phoenix RDC, Kappa Jotta, Landim, Rael, Emicida, Nerve e Profjam.

Na sua página pessoal, o artista afirma estar a iniciar ‘uma fase nova’ e prevê lançar outras músicas este ano, que se juntam a ‘Rap Consciente’ e ‘Poder’ – outro single que publicou esta semana.

Edição: Pedro Espadinha

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