Carta de Rescisão

Venho desta forma comunicar que rescindo o contrato de trabalho que mantenho com esta empresa, a ter efeito a partir da próxima semana.

Quanto ao motivo, esse, é um pouco mais complicado. Podia dizer que são os teus olhos que me hipnotizam quando chegas, pela manhã, ao escritório. Transformas qualquer dia mau em excelente, numa questão de segundos.

Podia afirmar que é o teu sorriso, mesmo tratando-se de um raro acontecimento – talvez seja por isso que é tão especial. Mas nota-se que é genuíno e, consequentemente, encantador.

Podia dizer que é devido à tua personalidade, tão singular, que rapidamente passa de ríspida e calculista para a criatura mais atenciosa e gentil que alguma vez percorreu este mundo.

O jantar de Natal da empresa em nada ajudou, e tenho quase a certeza que é a razão disto tudo. Recordo como se fosse ontem: apanhaste-me na rua a fumar um cigarro e sussurraste ao meu ouvido que sabias que tinha uma pancadinha pela chefe, que lhe achava piada e sexy, mesmo tendo em conta que era expressamente proibido o envolvimento entre colegas de trabalho. Pior ainda entre empregador e empregado.

Quando dei por mim, já estava na tua casa, na tua cama, nos teus lençóis, nos teus braços. Maldito bar aberto, a culpa desta situação toda é capaz de ser do álcool afinal. Inevitavelmente, o pior aconteceu nessa noite: apaixonei-me por ti. Tinha finalmente associado a parte mental à física e porventura foi intensa a união. Não tão forte, porém, como a primeira frase que oiço, vinda da tua boca, na manhã seguinte – isto não vai voltar a acontecer.

Estes últimos meses têm sido insuportáveis e é por esse motivo que me despeço. Desta forma afasto-me dos teus olhos, do teu sorriso e da tua personalidade, ficando só a dolorosa memória do teu toque.

Edição: Pedro Espadinha

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