Tempo Emprestado
- João Miguel Carvalho
- 25 de mai. de 2017
- 2 min de leitura

Fere-me o medo de falhar. Não me refiro ao sentido literal da palavra, de não conseguir, mas sim à de nem sequer chegar a tentar. Acho que tudo começou quando o meu pai morreu, antes dos 60, cheio de ambições e pequenos projetos que ficaram por realizar, tudo arrumado a um canto da nossa garagem.
Só passado pouco mais de um mês, após ter processado a sua morte, é que me apercebi de algo. Estamos todos em tempo emprestado. Parece uma frase escrita num romance, que depois é adaptada para o grande ecrã, mas que faz muito sentido. Pelo menos fez para mim.
Era um jovem despreocupado, sem grandes planos ou ambições, acompanhado sempre da noção de que viveria até aos 80, sem qualquer tipo de problema. Porém, a vida é a melhor professora e ensinou-me, de uma forma ríspida e, por vezes, cruel, que a nossa estadia neste planeta pode acabar a qualquer momento.
E eu então aprendi. Aprendi a dar uma oportunidade às situações que se apresentam perante mim, a aproveitar ao máximo o tempo que me foi cedido.
No entanto, vivo numa insatisfação constante, por haver tanto por ver, tanto por aprender, e necessitar de alguém com quem o partilhar. O simples ato de não conseguir fazer algo que ambiciono, magoa e deixa por vezes marca, transcrevendo-se quase sempre num enredo que projeto no meu pensamento, vezes e vezes sem conta.
Será talvez o meu maior defeito e, ao mesmo tempo, qualidade: ser sonhador. Tento fazer o melhor que consigo, sem nunca esquecer a lição tão valiosa que me foi transmitida indiretamente.
Talvez esse simples facto, de que não conseguimos concretizar tudo o que ambicionamos, seja o que torna tão especial aqueles que conseguimos efetivamente realizar. O tempo é um luxo, e correndo o risco de parecer mais um cliché, a verdade é que a vida é feita precisamente deles.
Edição: Pedro Espadinha
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