Quando o Jogo passa para Segundo Plano
- Pedro Espadinha
- 22 de mai. de 2017
- 2 min de leitura
Possui o dom ímpar de arrastar multidões, de, num ápice, fazer o adepto oscilar entre o júbilo e o desespero, de cativar e prender a atenção, de gerar um sentimento de afeto, pertença e orgulho que nenhum outro é capaz de replicar. O futebol é o epítome da paixão, é um fenómeno inigualável à escala mundial. E Portugal não é exceção. O desporto rei faz parte da vida de muitos, sendo sem sombra de dúvidas o maior foco a nivel nacional. É ele quem rouba as atenções e que, para milhões, rege o seu quotidiano. Quando entra a respetiva equipa em campo, não há tempo para o resto e a paixão fervorosa do adepto vem ao de cima, deixando quaisquer outras prioridades ou interesses para segundo plano. Para alguns, a ida ao estádio ou até mesmo a possibilidade de assistir a um jogo através da televisão, é um escape da rotina.
Porém, não se pode afirmar que existe cultura desportiva em Portugal. Hoje em dia, raro é o adepto de um clube que é capaz de “despir a camisola” e comentar e opinar como um adepto de futebol. É raro aquele que consegue fazer sobrepor a razão à emoção. É raro aquele que vai a um estádio de futebol para ver futebol, porque, na realidade, grande parte vai ver, apenas, e só, a sua equipa, que tem de ganhar a qualquer custo.
Os insultos, gratuitos e sucessivos, dirigidos aos árbitros, perante qualquer decisão tomada a favor do adversário, seja ela correta ou não, e os ataques, verbais e físicos, entre rivais são uma constante. Os cânticos de apoio são muitas vezes substituídos por cânticos ofensivos e o respeito e desportivismo deixam de existir. Apoiar não é insultar, agredir ou vandalizar e, no entanto, casos de agressividade repetem-se todas as semanas, incitando a um ciclo violento e vicioso.
Mas este clima de hostilidade não se prende só com a atitude do adepto comum. Esta mentalidade hipócrita parte também do topo, não só dos representantes máximos do futebol português como também dos inúmeros indivíduos a quem lhes é concedido tempo de antena para discutirem, num dos muitos programas televisivos, sobre casos de arbitragem.
A comunicação social, tendo um papel preponderante na formação e influência de opinião pública, contribui para um maior agravamento da situação, através de uma postura “incendiária”. O futebol, em si, passou para segundo plano. Os sucessivos ataques entre clubes, principalmente entre os “três grandes”, o clubismo cego e a politica, em geral, de culpabilizar os outros e nunca o próprio denegriu, e muito, o futebol português.
O jogo jogado passou a ser secundário perante o jogo falado, e aqueles que deveriam ter um papel de protagonista no desporto rei, os jogadores, passaram a ser meros figurantes, perante o espetáculo degradante fora das quatro linhas que tem ocorrido nos últimos anos.
Edição: Catarina Custódio
Fotografia: http://www.maisfutebol.iol.pt/
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